Desde criança quando me perguntavam o que eu mais gostava em mim eu respondia:
— os meus olhos.
E era verdade. E continua sendo.
Meus olhos sempre me mostraram o norte, pra onde eu deveria seguir.
E esse lugar quase sempre era pra cima, pro céu, pro horizonte.
Meus olhos sempre me mostraram a beleza, mesmo nas coisas que aparentemente não tinham beleza alguma.
Meus olhos sempre lavaram minh’alma, quando ela sozinha não sabia como fazê-lo.
Meus olhos sempre estiveram presentes, atentos, sedentos.
Quando criança, sempre diziam que eu “sorria com os olhos”. E eu sempre me envaidecia, ainda que envergonhada.
Com meus olhos, sempre vi as cores, as pessoas, os animais, as pedras, as conchas, as flores, meus pés e eu.
Inteira, de pé, caminhando, pro norte, pra onde sempre me apontaram eles…
Meus olhos.