Ele entrou no trem já meio pingaiada, mas sem causar. Os meninos já puxaram assunto e depois de racharem o bico com as groselhagem de bêbado perguntaram:
- Que ano cê nasceu, Madeira?
- - 1554
- - Se liga! Então cê é mais velho que São Paulo?
- - Eu sou lenda, rapaz!
- - Agora sério, que ano? Daí a identidade, vai!
23 de janeiro de 1954. O menino com o documento na mão já logo falou impressionado para os caras: “Ele veio lá do Piauí, tio!”.
Madeira chegou em São Paulo em 1973, desceu do ônibus descalço e sem camisa, morto de fome. Conta tudo isso rindo, como se fosse um “causo”. Os meninos riram também, não por maldade.
Depois de muita risada trocada ainda por outras histórias, o Madeira soltou:
- Fiquei contente! Vocês conversaram comigo!
- - Que isso, Maderão! Quer um trocado? Quer alguma ajuda?
- - Não, não, fio. Tá tudo certo.
Madeira é lenda, sim! Não é mais velho que São Paulo, mas esse lugar aqui foi você quem fez. É você quem faz, tiozinho! Queria ter te dito isso naquela hora, mas a cidade me engoliu.