Histórias que a gente ouve por aí…

Letícia
2 min readJul 28, 2021

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Tava ouvindo uma história. O cara trabalha no alto dos prédios, não sei se faz limpeza, manutenção ou obra. Só sei que tem equipamento próprio. Tudo pago pelo bolso dele, inclusive os equipamentos de segurança.

Um outro viu aqueles ferros todos, já ligado do que se tratava: “coragem, né? Pra esse trampo aí tem que ter coragem!”

— Nada! Precisa ficar é esperto. Mas dá um dinheiro, viu?

— Claro! Pela periculosidade, né?

— É. Meu irmão caiu do meu lado e eu não puder fazer nada, 27 andares, lá na Paulista. Mas também ele vacilou! Esqueceu o trava-quedas. Duro foi chegar em casa e falar pra minha mãe.

— Mas vocês foram indenizados, né?

— O seguro não cobriu. A segurança é responsabilidade nossa. Capacete, trava-queda. Era pra ser 300 mil, mas não tem o que fazer. Ele vacilou.

— Dureza, hein?

— Ah, bicho! Quem não cuida da vida é quem não gosta dela, né? Falou irmão, vou trabalhar! Tenho que terminar hoje lá, ainda não ficou do jeito que eu queria.

Dedicado. Caprichoso. Responsável.

E foi pra mais um dia. Conformado. Achando normal. Achando que a morte do irmão foi causada por ele próprio. Achando que, se ele morrer no meio do serviço (“não faço trampo com menos de 20 andares”), a culpa é dele.

E a gente fica com a certeza de que é cada um por si. Com a certeza de que a grande construtora que o contratou não vai se responsabilizar por nada.

Com a certeza de que o patrão dele não cuida da sua vida, nem da vida dos seus.

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