Outro dia, na fila do supermercado, um rapaz que operava o caixa perguntava ao outro sobre um game. Quando vi, já estava eu no meio do assunto, os dois sorriram e me perguntaram de onde eu tinha saído. Lá estávamos nós rindo, como se nós nos conhecêssemos.
Essa semana, ainda, na fila de uma farmácia, uma senhora desconhecida e eu conversávamos sobre o que Saramago dizia ser utopia, ela citava Ensaio Sobre a Cegueira e meus olhos brilhavam enquanto eu me lembrava do discurso daquele homem segurando o Prêmio Nobel.
Me dei conta de como tenho conversado com pessoas desconhecidas, como tem sido bom encontrar qualquer um e conversar sobre qualquer coisa que nos toque os corações. Como é bom o inesperado, como é bom poder criar um vínculo mesmo que estreito, infame e de alguns poucos instantes.
Como é bom poder conversar sem querer construir uma imagem ou posicionar-se diante de outro, como é bom poder conversar pelo simples prazer da palavra, pela troca de ideias.
